Ao final da tarde de terça-feira, 12 de Junho,
Paulo Pereira Cristóvão, no auditório do Estádio José Alvalade, anunciou
a sua demissão do cargo de vice-presidente do Conselho Directivo do
Sporting. Ricardo Tomás, Pedro da Cunha Ferreira e representantes de
grupos organizados de adeptos (claques) do Sporting estiveram no
auditório Artur Agostinho.
Com a comunicação de que no final da
conferência não ia haver lugar a perguntas, Paulo Pereira Cristóvão leu
o comunicado aos jornalistas.
Comunicado
“Há
precisamente dois meses fui constituído arguido no âmbito do
inacreditável processo «Cardinal». Nesse exacto dia suspendi-me de
funções de vice-presidente do Sporting, situação essa que se manteve por
algumas horas atenta a constatada impossibilidade estatutária de tal
figura. Foi exactamente nesse sentido e sem nunca perder de vista aquilo
que é o interesse superior do Clube que impus a mim mesmo o exacto
timing de dois meses por forma a que pudesse concluir, ou pelo menos,
deixar negociado ou encaminhado um conjunto de obras e melhoramentos que
tiveram o seu início por minha iniciativa e atendendo às especiais
condições negociais, teriam que ser concluídas por mim e mais ninguém.
Esta situação era do conhecimento de um grupo restrito de pessoas às
quais, desde já, agradeço a descrição mantida durante este período. As
condições referidas nos vários projectos têm somente que ver com
negociações que permitiram, na forma de permuta ou estabelecimento de
parcerias, que o Sporting nada tivesse que despender ou, quando
despendeu, fosse em valores consideravelmente diminutos face ao valor
das obras. Aos sportinguistas interessa antes de mais a obra, enquanto
que aos dirigentes cabe a responsabilidade de satisfazer os desejos da
massa adepta, mas tendo sempre presente as dificuldades de tesouraria do
Clube. Uma instituição como o Sporting, pela sua importância no
contexto nacional e internacional, pela sua dimensão e por ser
inequivocamente a maior força desportiva nacional, exige sempre o máximo
de respeito por parte de todos. Infelizmente nem sempre tem sido assim.
Informação, contra-informação, ruído, intriga, manipulação informativa,
invejas pessoais e recalcamentos próprios dos frustrados, tudo isto
pude verificar desde exactamente de há dois meses a esta parte.
Os
sportinguistas saberão fazer a destrinça entre a manipulação e a
verdade, especialmente quando a manipulação a que assistimos, outro
objectivo não teve que esconder insuficiências próprias de algumas
instituições e retirar o foco em personagens que essas sim deveriam ser
alvo do mesmo tipo de «investigação jornalística». A minha inocência, em
tudo isto, é algo que ninguém me pode tirar pois estou de facto
inocente e como tal não hesito, seja onde for e perante quem for, em
reafirmá-la as vezes que forem preciso. Mas a minha inocência ou o meu
bom nome por mais importante que sejam, jamais poderão estar acima do
Sporting Clube de Portugal e de facto nunca estiveram. Hoje estou aqui
perante vós com a tranquilidade de quem deu tudo o que tinha e tudo fez
pelo Clube do seu coração. Tenho a convicta sensação do dever cumprido
com os meus projectos de curto prazo cumpridos e os de médio prazo
encaminhados e entregues a pessoas que não os irão deixar morrer. Tive a
honra, nestes 15 meses, de concretizar projectos e participar em
soluções que considerava vitais não só para o futuro do Sporting mas
também para a alma e orgulho sportinguistas. Esses sentimentos de
realização pessoal jamais me serão tirados. Como inicialmente vos disse,
fui eu que escolhi o dia e hora como timing para conclusão daquilo a
que me propus. Sabia que enquanto me mantivesse em funções, a campanha
difamatória e a manipulação de opinião continuariam mas o Sporting
merecia e merece esse esforço e foi com este espírito que trabalhei nos
últimos 60 dias. Não há moços de recados ou pretensos «spin doctors» que
me fizessem desistir de concluir a que tinha que concluir. Foi isso que
fiz. Foi, tendo por base, o que já aqui vos comuniquei, que hoje mesmo
apresentei a renúncia ao meu mandato de vice-presidente do Conselho
Directivo do Sporting Clube de Portugal. Posto isto, as minhas palavras
seguintes vão para os sócios e adeptos sportinguistas aos quais peço que
continuem a acreditar e apoiar o nosso querido Clube. Às claques do
Sporting para que continuem a acompanhar as nossas equipas pelo país e
pela Europa fora.
Aos meus colegas de Conselho Directivo,
presidido por Luís Godinho Lopes, peço que nunca se desviem do caminho e
que mantenham a raça, a força e a verticalidade sempre demonstrados
mesmo quando alguns «moços de recados» anunciaram a desgraça e a cisão
entre nós.
A Luís Duque, Carlos Freitas e Ricardo Sá Pinto faço
votos para que continuem o excelente trabalho e que apesar do caminho,
tortuoso às vezes, que percorrem e por muita barreira que vos coloquem à
frente, tenham sempre a força de leões que são e mantenham-se firmes e
seguros das vossas convicções. O Sporting precisa de gente assim.
Uma
palavra aos funcionários do Sporting e especialmente àqueles que comigo
directamente trabalharam. Foi uma honra conhecer muitos de vós e
concluo que também convosco o espírito do leão está vivo. Foram muitas
as vezes que fizemos grandes omeletes quando nem um ovo tínhamos. Foi
difícil, mas como costumávamos dizer, se não fosse difícil não éramos o
Sporting.
Tenho orgulho em vós e os sportinguistas também o
deverão ter. Aprendi muito convosco e espero ter deixado um pouco de mim
em vós. O orgulho, a força e a raça que um leão deve ter, estão bem
patentes em todos os que acabei de referir. Concluindo: foram 15 meses
em que chorei de emoção, gritei de alegria, exultei com momentos
inolvidáveis, me entristeci com momentos em que os nossos objectivos não
foram alcançados, me comovi com demonstrações de amor a este Clube que
só quem as presenciou saberá o que significam. Conheci gente fantástica
que vive e respira um Clube fantástico. Gente que saía da sua casa para
acompanhar as nossas cores pela Europa só com o dinheiro da viagem de
ida sem meios de regressar. Esse amor incondicional, irracional e total
ao nosso grande amor ficar-me-á para sempre gravado no coração.
Foram
15 meses em que concretizei alguns dos meus sonhos e ajudei a
concretizar os de muitos sportinguistas. Isso é servir o Sporting e não
há maior honra que essa. Apesar desta forma como hoje encerro esta
passagem pelos órgãos sociais do meu grande amor e apesar de tudo o que
de desprezível e hediondo foi dito e escrito sobre mim, muitas vezes por
gente sem qualquer autoridade profissional, moral ou humana para o
fazer, aqui perante vós assumo que nem por um minuto me arrependo do que
aqui vivi e não me arrependo de rigorosamente nada. Afinal o Sporting é
e será sempre mais que a soma de todos nós.”
Comunicado do SCP
O
Sporting Clube de Portugal comunica que Paulo Pereira Cristóvão
renunciou esta terça-feira ao exercício das suas funções de
vice-presidente do Conselho Directivo.
Esta renúncia deve-se ao processo de averiguações de que foi alvo, e constituído arguido, no âmbito do "caso Cardinal".
Embora
solidário com o seu vice-presidente demissionário, os Órgãos Sociais
compreendem e aceitam a atitude assumida e decidiram, como sinónimo de
confiança na sua inocência, indicar como seu representante legal, o Dr.
Rogério Alves, que aceitou.
Os Órgãos Sociais aguardam serenamente que as averiguações prossigam e que seja feita justiça.
Sporting Clube de Portugal
FONTE: www.sporting.pt
Nenhum comentário:
Postar um comentário